Inaugurado em 1917, o Theatro São Pedro, instituição do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, gerido pela organização social Santa Marcelina Cultura, foi construído em estilo eclético, predominantemente neoclássico com detalhes em art nouveau, a pedido do empreendedor português Manoel Fernandes Lopes.
O engenheiro responsável pela obra foi Antônio Villares da Silva, que seguiu as linhas do projeto elaborado pelo arquiteto italiano Augusto Bernadelli Marchesini que residia na cidade e que fora o responsável também pelo projeto do Teatro Oberdan no Brás. O teatro de palco italiano com planta em forma de ferradura, além de plateia, frisas, balcões e camarotes, era recorrente nos teatros planejados para funcionar com programação mista, uma vez que seu projeto permitia a instalação de telas de projeção.
Concebido para ser um espaço dedicado a operetas, teatro e show de variedades, além de projeções de cinema, o São Pedro alternava, em seus primeiros decênios de atividade, a apresentação de companhias nacionais e estrangeiras
Cine-teatro do bairro da Barra Funda, a trajetória do São Pedro até os anos 40 é similar a de vários teatros de bairro. Incorporado nos anos 40 ao circuito exibidor das Empresas Reunidas, da Cia Cinematográfica Brasileira e da Metro Goldwin Mayer, o teatro passa por uma reforma e, em poucos anos, torna-se um elo da cadeia de exibição cinematográfica montada no centro de São Paulo.
Com a transformação da cidade e do bairro e a crise da Cinelândia a partir da década de 1960, o cinema São Pedro começa a perder seu público e prestígio, e em 1967 é definitivamente fechado.
A partir de 1967, o velho Cine-Teatro São Pedro é ocupado por grupos de teatro que questionavam os rumos dados não só à cultura nacional, mas ao próprio país. O pontapé inicial para esta nova fase foi dado pelo grupo Papyrus – liderado pela atriz Lélia Abramo e pela diretora Maria José de Carvalho e integrado pelo ator Marcos de Salles Oliveira, pelo artista plástico Abram Fayvel Hochman e pelo produtor Vicente Amato Filho.
Ao anunciar os projetos do novo teatro, com estreia de Macbeth, Salles Oliveira e Amato frisavam o interesse do grupo não apenas em “fazer teatro sério”, mas em combiná-las com filmes, música, conferências e concursos de dramaturgia. Como o teatro necessitava de reformas, ao locá-lo o Papyrus não pode suportar os elevados custos necessários para a sua reestruturação.
É em meio a esse processo que o São Pedro é arrendado a novos inquilinos, responsáveis pela memória do teatro como centro de experimentação artística e resistência política: o casal Beatriz e Maurício Segall e o ator e diretor Fernando Torres.
Após adequações de espaços e reformas dos principais itens técnicos do espaço, o São Pedro reabre no final de outubro de 1968 com uma série de apresentações de música erudita. A programação teatral é iniciada no mês seguinte, com a montagem de Os Fuzis da Sra.Carra, deBertolt Brecht, dirigida por Flávio Império.
Em 11 de setembro de 1970 uma nova sala de apresentações, cujo foco estava centrado na experimentação e dedicada a pequenos espetáculos, é aberta recebendo o nome de Studio São Pedro. A peça de inauguração, A Longa Noite de Cristal, de Oduvaldo Viana Filho, foi contemplada com o Prêmio Molière daquele ano. Nesse mesmo ano é apresentado na sala grande um dos maiores sucessos do decênio, o espetáculo musical Hair, dirigido por Ademar Guerra.
Ao Studio, por sua vez, se liga outra característica marcante da ação do São Pedro na década de 70: a recepção e incorporação de artistas e grupos de trabalho provenientes de grupos perseguidos e censurados como os teatros Oficina e Arena (dentre os quais Renato Borghi, Celso Frateschi e Fernando Peixoto). Uma série de peças importantes são encenadas no Studio, para mencionarmos alguns exemplos: Os Tambores na Noite (Brecht), A Semana (Carlos Queiroz Telles), Frei Caneca (Carlos Queiroz Telles), Frank V (Dürrenmat) e Calabar (Chico Buarque e Ruy Guerra), entre outras.
Apesar das montagens bem-sucedidas problemas financeiros e internos ao grupo levam Segall a alugar a grande sala do teatro ao governo do Estado e a desistir de fazer produções próprias no Studio. A partir de 1974, o teatro passa assim a servir também de sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), então sob a direção do maestro Eleazar de Carvalho. A São Pedro Produções Artísticas, encerra suas atividades em 1975, ainda que Maurício Segall permaneça na direção do teatro até 1981.
No final dos anos 70, o teatro é sublocado para grupos variados, apresenta ainda algumas peças com Beatriz Segall à frente do elenco, e três montagens marcantes: Macunaíma (Mário de Andrade), sob a direção de Antunes Filho, em 1978; Ópera do Malandro (Chico Buarque), dirigida por Luis Antônio Martinez Corrêa, em 1979, e a já mencionada Calabar, dirigida por Fernando Peixoto, em 1980.
Em 81, tem início nova fase de abandono. Mas, no mesmo ano, o governo estadual inicia o processo de tombamento, concluído em agosto de 1984, quando o edifício do Theatro São Pedro foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e declarado de utilidade pública para fins de desapropriação.
As obras para sua recuperação, foram encomendadas pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de São Paulo, e o projeto foi estruturado em dois eixos básicos: a recuperação do maior número possível de elementos arquitetônicos originais da construção edificada entre 1916 e 1917 e a reforma completa de sua infra-estrutura, com implementação de novos equipamentos cênicos, de conforto acústico, térmico, funcional e de segurança, devidamente integrados ao restauro.
Depois de uma década e meia, em 24 de março 1998, o novo Theatro São Pedro foi reaberto ao público em uma grande cerimônial. Em junho de 1999, o projeto de restauração do Teatro São Pedro foi um dos contemplados com a Medalha de Ouro de Arquitetura Teatral da 9ª. Quadrienal de Cenografia, Indumentária e Arquitetura Teatral de Praga.
A inauguração do novo São Pedro no final da década de 90 significou o início de uma nova orientação. O projeto de recuperação do teatro fez parte de um conjunto de intervenções visando a requalificação na área central da cidade. Na cerimônia de abertura do São Pedro a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado anuncia que o mesmo funcionaria como sede provisória da OSESP até a conclusão das obras na Júlio Prestes. A Orquestra inicia a nova programação do teatro no dia seguinte à abertura, apresentando a ópera La Cenerentola (A Cinderela), de Rossini.
A saída da Orquestra, em julho de 1999, não altera a direção conferida ao teatro. Nesse mesmo ano apresentam-se no São Pedro, entre outros, a Camerata Fukuda, dirigida por Celso Antunes, e uma versão para marionetes da última ópera de Mozart, nomeada Flauta Mágica para Crianças. Em 2000, a orientação operística do teatro é reforçada, confirmando-se tanto com montagens do repertório europeu tradicional, como O Barbeiro de Sevilha (Rossini), As Bodas de Fígaro, Don Giovanni e A Flauta Mágica (Mozart), como com inovações brasileiras como Domitila, um pequeno monodrama baseado nas cartas trocadas entre Dom Pedro I e a Marquesa de Santos (Domitila de Castro Canto e Melo); Pedro Malazartes, uma comédia musical de Camargo Guarnieri com libreto de Mário de Andrade, Ventriloquist e uma pocket opera dirigida por Gerald Thomas.
Estimulada pela experiência anterior, a direção do teatro prepara no ano seguinte uma temporada de óperas, dentre os quais se destaca uma inédita L’Oca del Cairo, de Mozart. Também nesse ano, o teatro passa a apresentar espetáculos de dança, com destaque para o espetáculo Dos a Deux, de André Curti e Artur Ribeiro, inspirado em Esperando Godot (Beckett). No início de 2002 são inaugurados dois novos espaços no São Pedro: em janeiro, a sala Dinorá de Carvalho, de 90 lugares, voltada para recitais e grupos de câmara, e, em maio, o Centro de Memória da Ópera do Theatro São Pedro, constituído a partir do acervo de mais de 6300 peças de figurino doado por Fausto Favale, antigo dono da Casa Temaghi.
Gradativamente, a ópera passou a ocupar lugar de destaque na programação do São Pedro, e em 2010, com a criação da Orquestra do Theatro São Pedro, essa vocação foi reafirmada. Ao longo dos anos, suas temporadas líricas apostaram na diversidade, com títulos conhecidos do repertório tradicional, obras pouco executadas, além de óperas de compositores brasileiros, tornando o Theatro São Pedro uma referência na cena lírica do país. Agora, o Theatro São Pedro inicia uma nova fase, respeitando sua própria história e atento aos novos desafios da arte, da cultura e da sociedade.
O Theatro São Pedro foi responsável pela estreia nacional de obras como Alcina, de Georg Friedrich Handel, Kátia Kabanová, de Leoš Janáček, A Volta do Parafuso, de Benjamin Britten, O Barbeiro de Sevilha, de Paisello e Arlecchino, de Busoni, além da estreia mundial de Ritos de Perpassagem, do compositor brasileiro Flo Menezes.
Entre os artistas que já subiram ao palco do Theatro estão maestros de renome como Ligia Amadio, Ira Levin, Valentina Peleggi, Cláudio Cruz, Luis Otavio Santos, Luiz Fernando Malheiro e Silvio Viegas; instrumentistas do naipe de Antonio Meneses, Gilberto Tinetti, Nicolau de Figueiredo, Pacho Flores; e cantores de destaque como Denise de Freitas, Paulo Szot Rosana Lamosa, Savio Sperandio, Gabriella Pace, Gregory Reinhart, Luisa Francesconi, Luciana Bueno, Marília Vargas, Giovanni Tristacci, entre outros.
Entre outros títulos pouco executados que foram revisitados estão Adriana Lecouvreur, de Cilea, Dom Quixote, de Massenet, Édipo Rei, de Stravinsky, As Bodas no Monastério, de Prokofiev, Iphigénie em Tauride, de Gluck, Ártemis, de Alberto Nepomuceno, e Os Sete Pecados Capitais, de Kurt Weill. E, para encerrar a temporada operística de 2021, o Theatro São Pedro estreia a ópera O Senhor Bruschino, de Gioachino Rossini.
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